Exercícios sobre João Cabral de Melo Neto

João Cabral de Melo Neto foi um importante representante do Modernismo brasileiro, pertencente à geração de 1945 (poesia). Publicado por: Vânia Maria do Nascimento Duarte
Questão 1

(UEL-PR)Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, identifica-se como:

a) uma obra que, refletindo inovações e experimentações linguísticas do autor, torna tênues as barreiras entre a prosa e poesia.

b) um auto que explora a temática do nascimento como signo do ressurgir da esperança.

c) um auto de Natal que rememora a visita dos reis Magos e pastores ao Deus Menino.

d) um poema que encerra uma síntese das propostas vanguardistas contidas na obra geral do autor.

e) um conto cujo interesse se centraliza na preocupação do autor como problema da seca no Nordeste.

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Resposta

Atesta-se como alternativa adequada ao que é pontuado no enunciado aquela representada pela letra “B”, sobretudo pelo fato de que o subtítulo se demarca por Auto de Natal pernambucano, registrando as influências que a estrutura do teatro medieval vicentino exercia sobre o poeta. Vale mencionar, dessa forma, que a referência ora apontada ao Natal diz respeito a um nascimento que mudará de vez por todas a vida do protagonista (Severino), bem como “pernambucano”, para realmente situar o contexto, ou seja, o espaço cujo foco é a região nordestina.

Questão 2

Entre os representantes da geração de 45 figura-se João Cabral de Melo Neto, cuja poesia abaixo se encontra demarcada. Dessa forma, leia e analise-a, fazendo a seguir algumas considerações acerca das características que demarcaram as produções literárias desse nobre representante de nossas letras.

Tecendo amanhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

 De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro; de um outro galo

que apanhe o grito de um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo,

para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos.

 

E se encorpando em tela, entre todos,

se erguendo tenda, onde entrem todos,

se entretendendo para todos, no toldo

(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo

que, tecido, se eleva por si: luz balão.

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Resposta

De posse dos dizeres expressos na criação em pauta, torna-se relevante afirmarmos acerca das duas vertentes que nortearam a poesia do autor em questão – João Cabral de Melo Neto. Uma delas, objeto de nossa discussão, diz respeito à fase demarcada pelo que denominamos de metapoética, cujos propósitos se firmaram num eu-lírico que se via realizando experimentações linguísticas. Trocando em outras palavras, trata-se de um metapoema, isto é, a poesia falando da própria poesia. Nesse ínterim, vale afirmar que, distanciando-se da subjetividade tão apregoada pelos artistas da era romântica, o poeta se manteve lúcido e racional, mostrando-se não como um sonhador, mas como um autêntico observador, um autêntico crítico da realidade circundante. Nesse sentido, tomando como exemplo os próprios versos da poesia em questão, citemos alguns deles:

Um galo sozinho não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

 De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro; de um outro galo

que apanhe o grito de um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos [...]

Neles, o autor fala exatamente sobre a questão da escrita em si, pois, diante da tarefa de construirmos um texto, temos de ter consciência de que ele estabelece um diálogo com outros, levando em conta nosso conhecimento de mundo, fruto de nossas experiências, de nossa bagagem cultural propriamente dita. Assim também ocorre com a poesia, haja vista que esse dialogar se refere aos posicionamentos ideológicos manifestados por meio do discurso que produz.

Questão 3

Em se tratando do poema que segue (O engenheiro), ele, de forma literal, representa um dos aspectos que nutrem a trajetória artística de João Cabral de Melo Neto. Dessa forma, ative os seus conhecimentos, procurando, assim, tecer algumas considerações acerca de tais particularidades, tendo subsídio, é claro, na criação poética em questão:

O engenheiro

A luz, o sol, o ar livre
envolvem o sonho do engenheiro.
O engenheiro sonha coisas claras:
superfícies, tênis, um copo de água.

O lápis, o esquadro, o papel;
o desenho, o projeto, o número:
o engenheiro pensa o mundo justo,
mundo que nenhum véu encobre.

(Em certas tardes nós subíamos
ao edifício. A cidade diária,
como um jornal que todos liam,
ganhava um pulmão de cimento e vidro.)

A água, o vento, a claridade
de um lado o rio, no alto as nuvens,
situavam na natureza o edifício
crescendo de suas forças simples.

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Como apontado no início da questão, a começar pelo próprio título – o engenheiro, a estética da qual se constitui o poema revela a engenhosidade desse nobre representante de nossas letras, haja vista que detectamos nele, bem como nos demais artistas que compuseram a Geração de 1945, uma espécie de retomada aos moldes parnaso-simbolistas, no qual aquele aspecto prosaico, muitas vezes lançando mão da ironia e até do verso livre, vai cedendo lugar a composições mais equilibradas, revestidas, pois, de um tom mais classicizante, tudo em nome da afirmação estética – o que demonstra que a preocupação agora se dá mais com a forma do que com as questões sociais propriamente ditas.

Questão 4

Morte e vida Severinarepresenta uma das facetas que nortearam a poesia de João Cabral de Melo Neto. Assim, lendo alguns fragmentos, os quais se encontram abaixo evidenciados, dê vida aos seus conhecimentos e registre suas impressões acerca da materialidade discursiva nele presente, levando em conta, é claro, os posicionamentos ideológicos tão pontuados numa análise literária:

[...]

Somos muitos Severinos  
iguais em tudo na vida:   
na mesma cabeça grande   
que a custo é que se equilibra,   
no mesmo ventre crescido   
sobre as mesmas pernas finas   
e iguais também porque o sangue,   
que usamos tem pouca tinta.   

E se somos Severinos   
iguais em tudo na vida,   
morremos de morte igual,   
mesma morte severina:   
que é a morte de que se morre   
de velhice antes dos trinta,   
de emboscada antes dos vinte   
de fome um pouco por dia   
(de fraqueza e de doença   
é que a morte severina   
ataca em qualquer idade,   
e até gente não nascida).   

Somos muitos Severinos   
iguais em tudo e na sina:   
a de abrandar estas pedras   
suando-se muito em cima,   
a de tentar despertar   
terra sempre mais extinta,

a de querer arrancar   
alguns roçado da cinza.   
Mas, para que me conheçam   
melhor Vossas Senhorias   
e melhor possam seguir   
a história de minha vida,   
passo a ser o Severino   
que em vossa presença emigra.

[...]

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Resposta

Tem-se que a criação artística ora em questão representa a outra faceta que demarcou o trabalho de João Cabral de Melo Neto, atestando que seu “veio” poético agora se voltava para uma poesia participante, voltada para um verdadeiro engajamento com os problemas sociais, sobretudo os que assolavam a região nordestina. Dessa forma, mediante a habilidade artística de que dispunha, conseguiu fazer de alguns obstáculos, tais como a miséria, a fome, a seca da região Nordeste, sua materialidade poética, camuflando a dureza da situação por detrás das palavras.  

Assim, criou o personagem Severino, retirante por excelência, que saiu lá da Serra da Costela em busca de melhores condições de vida, retratando, portanto, o cenário histórico, político e econômico da época em que o poema foi escrito. Equivale dizer, por que não, que as denúncias se encontram presentes em todos os trechos, entre eles:

Somos muitos Severinos  
iguais em tudo na vida:   
na mesma cabeça grande   
que a custo é que se equilibra,   
no mesmo ventre crescido   
sobre as mesmas pernas finas   
e iguais também porque o sangue,   
que usamos tem pouca tinta.

Nota-se que por meio deles o autor se refere à miséria, sobretudo demarcada pela subnutrição (pernas finas/sangue com pouca tinta.).

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